sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

man in festa

Talvez um maço só não baste. A casa é o pior lugar pra se esconder nestas horas, e a rua toda cheia de vazios deixa de ser caminho e passa a ser destino. Mesmo com o perigo do gás. Semana passada estouraram tanta bomba na Paulista que ela, uns instantes, virou nuvem. A gente nunca imaginou que andar nas nuvens seria assim. Sufoco.

Só o coração respira. Por isso não entendo como aquele mato crescendo na rachadura do viaduto resiste. Ali, no sentido Rebouças. Tem outros também. Tentei cortar uma vez - bastou um fim de semana e estava tudo igual. Não desisti: cortei outras tantas. Agora só tento evitar que ele cresça. Tem outros. Tem outros e o medo é que eles sufoquem como o gás. É perigoso porque não tem barulho. A bomba já bota a gente em sobressalto quando explode, todo mundo em disparada. O gás é depois, junto com o desejo de não ter olhos e garganta. Mas, como dizem, desejo é

Tem uns que são do tamanho de arbusto. Um famoso é o da ponte Cidade Universitária. Se atreveu a ficar bonito, ninguém mais tem coragem de cortar. Devem ter outros tão bonitos quanto. Só que: se não forem? Se crescem desgrenhados forçando rachaduras espaços boca nariz olhos? Se chegam ao coração?

Fumo é pra lidar com a ansiedade. E o medo. Deixei de lado o assassinato dos matos. Vai que - . E como meu destino não será tão cedo a casa, o cigarro ajuda a pastar o tempo. Acendo, olhos nos trilhos elevados do metrô.  Mais um na estação Vila das Belezas.

Um comentário:

Lila Bric disse...

Já pensei em escrever sobre as árvores plantadas no cimento das calçadas, mas isso foi lindo e duro.