terça-feira, 15 de novembro de 2016

Apontamentos

Há quem diga, do amor, que ele é uma grande exclamação. Great!
Uns tantos afirmam de que se trata de uma interrogação. Será?
Tem gente que o prefere simples ponto final. Assim.

De minha parte, amor é reticências. Ao que parece...

[sobre obviedades, clichês e outras coisas ruins que se escreve sobre o amor.]

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Crise filosófico-político-existencial Ou O que se escreve nos dias de Inferno Astral

Crer no ser humano (fé, palavra emprestada da religião, sem outra utilidade que não a de temperar a vida a gosto), mas não na humanidade

ou

Apostar na humanidade (razão, palavra de reverberações filosóficas que se acha GPS útil para trilhar estradas desconhecidas), mas não no ser humano.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Conto escolar nº 02 ou "atividade"

Leia abaixo um trecho da estória de Os cães que ladram, de J. Sar-Amargus; em seguida, faça o que se pede:

"(...)
Para se montar uma cantina em escola é necessário abrir processo de licitação e respeitar a livre concorrência, como preconiza as leis do Estado a que alguns chamam Burguês, outros, julgados menos esclarecidos sob a ótica dos primeiros, preferem dizer Estado Democrático, se falta a este ou aquele algum teto, bom emprego ou bons estudos, ou mesmo artigos de primeira necessidade, um prato de arroz e feijão, um pão com café, deve-se culpar o sujeito que não se esforçou o bastante e não fez por merecer. Mas a gente tem uma cantineira amiga da escola, aqui da comunidade, conhecida dos alunos, falou uma professora. Esquecemos de dizer que a cena acontece em uma escola, especificamente em uma sala de professores, lugar da gente esclarecida, Castelo dos Nobres no Limbo de Dante, cuja luz emana do conhecimento de quem lá habita. A mesa onde os doutos se encontram, porém, não é circular, e fracamente iluminada por uma lâmpada fluorescente de par queimado, detalhe pouco importante ao momento preciso da narrativa, só nos dificulta a descrição destes que estão sentados, uma mulher já de meia idade, um homem de vinte e tantos, outra mulher, um homem de grande barriga, outro homem e outra mulher, as sombras do ambiente não nos permite ir além, voltemos, portanto, à conversa. É, e a moça está ajudando na reforma do piso da cozinha dos professores, Até armário mandou fazer, Mas isso não é ilegal, Veja bem, eu só estou contando o que ela já fez por nós, Lembra de como estava o piso da cozinha, Os armários são de parede, vai sobrar espaço naquele cubo apertado, E depois o processo está aberto, vão ter outras propostas, se vocês acharem melhor as outras, Outras não, a gente já conhece essa, é arriscado colocar quem não entende dos paranauê, E o que os alunos ganham com isso, Você viu o preço dos lanches, as promoções, Vamos até estender os intervalos para dar tempo de todos comprarem, Mas a gente vai poder continuar escolhendo os lanches primeiro, Precisamos ver como organizar isso, porque não fica legal pra nossa imagem cortar fila de aluno, deixemos a discussão de lado, claro está que a categoria saberá encontrar a solução, jamais esqueçamos nós, incultos, que estes são os seres que trazem a luz aos alunos, não são como as mães,  que os filhos entrega à luz, os dá como se diz no corrente, gesto menos adequado ao mundo do mercado, onde nada se ganha, tudo se compra, tudo se vende, tudo se conquista por esforço e mérito, é o que ensina a escola, os esclarecidos que as gere e digere. Disso sabemos pouco, pouco deve saber um narrador que usa por três vezes as palavras luz e esclarecido, quarta agora, parece que não aprendeu nada (...)."

1.) reorganize o excerto e transforme o diálogo presente nele em discurso direto, dando voz às personagens e usando os sinais de pontuação adequados (aspas ou travessão, interrogação, exclamação, dois pontos, ponto final);
2.) Reescreva a história começando da seguinte forma:
"Para se executar algumas obras públicas, é necessário licitação e abertura à livre concorrência..."

ORIENTAÇÕES
            - a atividade é individual;

            - faça as alterações que julgar necessárias;

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

man in festa

Talvez um maço só não baste. A casa é o pior lugar pra se esconder nestas horas, e a rua toda cheia de vazios deixa de ser caminho e passa a ser destino. Mesmo com o perigo do gás. Semana passada estouraram tanta bomba na Paulista que ela, uns instantes, virou nuvem. A gente nunca imaginou que andar nas nuvens seria assim. Sufoco.

Só o coração respira. Por isso não entendo como aquele mato crescendo na rachadura do viaduto resiste. Ali, no sentido Rebouças. Tem outros também. Tentei cortar uma vez - bastou um fim de semana e estava tudo igual. Não desisti: cortei outras tantas. Agora só tento evitar que ele cresça. Tem outros. Tem outros e o medo é que eles sufoquem como o gás. É perigoso porque não tem barulho. A bomba já bota a gente em sobressalto quando explode, todo mundo em disparada. O gás é depois, junto com o desejo de não ter olhos e garganta. Mas, como dizem, desejo é

Tem uns que são do tamanho de arbusto. Um famoso é o da ponte Cidade Universitária. Se atreveu a ficar bonito, ninguém mais tem coragem de cortar. Devem ter outros tão bonitos quanto. Só que: se não forem? Se crescem desgrenhados forçando rachaduras espaços boca nariz olhos? Se chegam ao coração?

Fumo é pra lidar com a ansiedade. E o medo. Deixei de lado o assassinato dos matos. Vai que - . E como meu destino não será tão cedo a casa, o cigarro ajuda a pastar o tempo. Acendo, olhos nos trilhos elevados do metrô.  Mais um na estação Vila das Belezas.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Anedota reflexiva ou direito à tristeza

(contém spoiler de Diverta Mente [Inside Out, 2015] e da minha vida)

É um filme de criança, mas eu chorei quando, em Divertida Mente, o Amigo Imaginário fica no depósito de lembranças descartadas para que Alegria consiga subir, achar Tristeza e retornar à Torre de Comando da cabeça de Riley. Uma criancinha do meu lado, com seus, sei lá, quatro anos, adivinhando meus soluços, perguntou baixinho: "o seu também caiu lá?". Não sei se viu meu sorriso frouxo e o leve aceno de cabeça, mas a garotinha, cara de quem receia perder algo, enroscou-se no próprio peito, como se abraçasse alguém.

A verdade é que não lembro de ter tido amigos imaginários - se houveram, estão no limbo das lembranças que não mais acesso. E acho importante, talvez a parte mais importante do filme da Disney-Pixar, a reflexão sobre o papel da tristeza na formação da nossa personalidade. Sobretudo nos corridos dias de hoje, em que a tônica do ser feliz a todo e qualquer custo é a bandeira que muitos carregam. Interessante também é o fato de ser um filme para crianças que propõe tal reflexão. Talvez os pais, tios (como é o meu caso) e adultos em geral tenham sido pegos de surpresa pela mensagem nada implícita do filme. Sim: só a Alegria no comando faz a gente fazer burrada. Sim: Tristeza é importante porque nos dá clareza quanto ao que fazer. Sim: Tristeza e Alegria não se anulam. Tudo talvez muito óbvio mas, como minha irmã adora dizer, o óbvio precisa ser dito. Entendê-lo faz parte do processo de amadurecimento.