quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Academia (2)

Há, em sua obra, um claro esforço em visitar certas imagens. (...) Pássaro e árvore repetem-se em sua prosa poética evidenciando, talvez, um projeto temático, qual seja, uma espécie de brincadeira semântica que gira em torno de um conflito existencial traduzido na relação entre partir e ficar, em que o poeta explora as plurissignificações dos verbos-conceitos. Não se trata, todavia, como facilmente poderia se supor, somente do drama da morte e vida. Tal projeto desenha-se aquém e além dessas ideias: uma latente necessidade de viagem para além dos anéis de seu planeta, cerceada quase sempre pela impossibilidade de romper os laços com seu lugar de origem, até a transcendência ou não do "espírito"¹. Do contato entre pássaro e árvore, em diversos momentos, aflora uma situação de impasse. Não um impasse paralítico: é, antes, um estado de quase epifania. Como se o eu-poemático estivesse a um passo da Grande Revelação. A melancolia, característica mais evidente dos poemas que trazem estas imagens, é talvez a energia condensada no momento apórico. O pássaro irá negar o vôo? A árvore se libertará das raízes? Não há (...)







¹ O conceito de "espírito" é o que mais se aproxima daquilo que os habitantes de Saturno chamam de kaval-dûr. No entanto, a tradução mais literal do termo seria "poço". Os habitantes do planeta acreditam que cada criatura é um poço infinito de onde emana todos os sentimentos, pensamentos e desejos, e o corpo é apenas a superfície visível dele. Transcender seria chegar ao ponto em que todos os poços se conectam, o draleir krav, ou fonte primordial.