sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Deus seja louvado

Na floresta amazônica, a milhares de quilômetros daqui (daqui sendo um qualquer lugar confortável de uma metrópole como SP), uma menina vende seu corpo a um motorista de caminhão: R$20,00. Em outro ponto do país, numa praia em Natal por exemplo, um jovem da classe média gaúcha gasta R$500,00 em ecstasy e outras substâncias para consumir com seus colegas, em férias na cidade. Na mesma região, em Salvador, cobra-se R$  5,00 para se visitar a Igreja de São Francisco, enquanto a baiana pede R$3,00 ao fazer pose para uma foto. As escolas particulares mineiras arrecadam das elites locais em torno de R$1000,00 por cabeça para garantir que os filhos delas recebam boa educação e possam perpetuar  as estruturas sociais. No Rio de Janeiro, um moleque do morro vende a um playboy da zona sul três trouxinhas de maconha por R$5,00 cada; o mesmo playboy também leva 3gr de cocaína por R$60,00. No Guarujá, em SP, um dono de restaurante fica injuriado por conta da diferença de  R$7,00 na conta de um universitário.
Poderia-se parar por aqui, mas vamos um pouco mais fundo. A menina foi vendida pelos próprios pais a um cafetão da região; agora, sem estudar, ela abre a boca e as pernas para receber homens imundos e sem escrúpulos; um dos jovens que consumiu ecstasy na praia já havia fumado um baseado e bebido todas e acaba de ter uma parada cardíaca; a baiana torna sua imagem um produto e vende-se feliz pouco se importando com os dilemas morais por trás do ato; os jovens estudantes das escolas mineiras ocuparão as vagas das universidades públicas, deixando à imensa maioria da população - os pobres - as vagas (pagas) nas fracas instituições de ensino superior privadas; o moleque do morro pega uma quantia maior do que lhe cabe no tráfico, e acaba perdendo a vida, enquanto o playboy comemora com os seus na noite carioca; o universitário, de 22 anos apenas, é assassinado a facadas e o autor do crime foge com outros envolvidos. E a igreja de São Francisco, casa de deus para alguns, arrecada seus quinhões enquanto a miséria corre solta, pelas valas, como a urina dos foliões.

Enquanto isso, o escritor intriga-se com uma questão: por que os ateus e agnósticos, ou melhor, por que os ateus e agnósticos concordam em tirar a frase das cédulas de real?