quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Anedota reflexiva ou direito à tristeza

(contém spoiler de Diverta Mente [Inside Out, 2015] e da minha vida)

É um filme de criança, mas eu chorei quando, em Divertida Mente, o Amigo Imaginário fica no depósito de lembranças descartadas para que Alegria consiga subir, achar Tristeza e retornar à Torre de Comando da cabeça de Riley. Uma criancinha do meu lado, com seus, sei lá, quatro anos, adivinhando meus soluços, perguntou baixinho: "o seu também caiu lá?". Não sei se viu meu sorriso frouxo e o leve aceno de cabeça, mas a garotinha, cara de quem receia perder algo, enroscou-se no próprio peito, como se abraçasse alguém.

A verdade é que não lembro de ter tido amigos imaginários - se houveram, estão no limbo das lembranças que não mais acesso. E acho importante, talvez a parte mais importante do filme da Disney-Pixar, a reflexão sobre o papel da tristeza na formação da nossa personalidade. Sobretudo nos corridos dias de hoje, em que a tônica do ser feliz a todo e qualquer custo é a bandeira que muitos carregam. Interessante também é o fato de ser um filme para crianças que propõe tal reflexão. Talvez os pais, tios (como é o meu caso) e adultos em geral tenham sido pegos de surpresa pela mensagem nada implícita do filme. Sim: só a Alegria no comando faz a gente fazer burrada. Sim: Tristeza é importante porque nos dá clareza quanto ao que fazer. Sim: Tristeza e Alegria não se anulam. Tudo talvez muito óbvio mas, como minha irmã adora dizer, o óbvio precisa ser dito. Entendê-lo faz parte do processo de amadurecimento.

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