quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Coisa Miserável

Coisa miserável,
Suspiro de angústia
Enchendo o espaço,
Vontade de chorar,
Coisa miserável,
Miserável

Senhor, piedade de mim,
Olhos misericordiosos
Pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo,
consolai-me.

Mas de nada vale
Gemer ou chorar,
De nada vale
Erguer mãos e olhos
Para um céu tão longe,
Para um deus tão longe
Ou, quem sabe? para um céu vazio.

É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
e ficar fechado
entre duas paredes
sem a mais leve cólera
ou humilhação.

Poesia Completa de Carlos Drummond de Andrade, p. 55 (Nova Aguilar)