segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A vida, o Universo e Tudo o Mais

Vídeos mostram suposto óvni em Israel e geram polêmica na internet

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/02/16/videos-mostram-suposto-ovni-em-israel-e-geram-polemica-na-internet.jhtm







Acho que estou lendo demais Douglas Adams...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CARTA AOS MEUS ALUNOS*

* Tania Macêdo, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de Sao Paulo


Muitas vezes, quando em minhas aulas as utopias são referidas (Revoluções africanas, o 25 de Abril, por exemplo), o desdém preenche a sala, seguido de um desânimo que, uma vez, foi verbalizado por um aluno: “Isso tudo ocorreu há tanto tempo! Hoje somos diferentes, estamos em outro momento. Não acreditamos mais em nada, não queremos saber de nada”.

Longe de ler essa resposta como um conflito de gerações, tomo-a como indício da situação em que o capital, com a sanha consumista, traduziu-se na rapidez dos relacionamentos, das “amizades” que se formam ao toque de uma tecla que leva ao Facebook ou ao Orkut e se desfazem com a mesma facilidade, à torrente de informação e à pobreza de experiências, que conduziram à descrença, ao imobilismo e aos finais de semana regados a ecstasy e outros “paraísos artificiais”.

Será realmente impossível acreditar?

Escrevo-lhes porque uma série de acontecimentos recentes apontam para o florescimento do comunitarismo que sobrepuja a subjetividade auto-centrada, a “ego-trip” e o imobilismo.

Falo, é lógico da Revolução do Jasmim e do que se passou no Egito nos 18 dias entre 25 de janeiro e 11 de fevereiro de 2011. Para muitos são apenas notícias de lugares distantes, daquelas que inundam a sua sala de visitas a partir da luz bruxuleante das televisões.

Esperem! Tenham um pouco mais de paciência. Esses acontecimentos merecem muita, muita atenção.

Que tal iniciarmos como uma personagem de Luandino Vieira que diz: “É preciso dizer um princípio que se escolhe: costuma se come­çar, para ser mais fácil, na raiz dos paus, na raiz das coisas, na raiz dos casos, das conversas.”?

Então, podemos dizer que tudo começou com um ato desesperado de um jovem tunisiano, Mohamed Bouazizi, que não podendo mais sustentar sua família com a venda de frutas na rua, confiscadas por policiais corruptos, ateou fogo ao próprio corpo em protesto. Outros jovens entenderam o significado do ato e a partir de movimentação intensa, tomaram as praças. Se foi o desespero que impulsionou o movimento, a comunicação entre os seus participantes foi bem ao gosto de vocês: pelos celulares, computadores, IPods. E houve canto, e houve rezas, mas também gás lacrimogêneo, pedras, tiros e mortes. Muitas mortes. Não nos iludamos, pois as mudanças de fato cobram o seu salário em sangue.

E o ditador da Tunísia, Bem Ali, apesar de apoiado pela França, Espanha e Itália, não resistiu à pressão dos que saíram às ruas e caiu.

Mas quando se sente o sabor da liberdade e se tem consciência da força do coletivo, não é possível parar. Foi então a vez do Egito. Dezoito dias da massa enfrentando tanques e a pressão internacional de países como Estados Unidos e Israel.

E se Obama, no primeiro momento disse: “Mubarak é um bom homem. Ele fez coisas boas. Manteve a estabilidade. Continuaremos a apoiá-lo porque é um amigo”, teve depois aceitar a derrota que a população egipcia lhe impôs, porque a Praça Tahrir se encheu cada dia mais. E como na Tunísia, houve luta, orações, cânticos e mortes que derrubaram o ditador Mubarak o qual, com seus acordos de paz com Israel, permitira que se fechasse a faixa de Gaza, condenando o povo palestino à mais aviltante miséria.

No momento em que lhes escrevo Iêmen e Argélia começam as manifestações.

Prestem atenção.

Uma corrente de crença e ação se alastra. Os seus elos mais fortes são jovens como vocês: com a mesma vontade de dignidade, emprego e felicidade.

Pensem nisso quando lhes pedirem para participar de um Ato Público, assinar um documento pela melhoria do ensino ou discutir sobre os problemas da Universidade e da nação.

Lembrem, um pouco só, do texto de Luandino que lhes citei acima e que também diz: “Os pensamentos, na cabeça das pessoas, têm ainda de começar em qualquer parte, qualquer dia, qualquer caso. Só o que precisa é procurar saber.”

Procurem, ao menos, saber. Depois fica mais fácil agir.

Tania Macêdo


créditos da fotos:

1. não especificado

2. Martin Bureau, AFP

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quadro Futurista, por A. B. S.

"'Cause everybody hurts

Take comfort in your friends"

R.E.M

Vejo-os sentados em umas tantas mesas de bar, juntas, aproximando as vontades, a bebida, a alegria. O garçom, conhecido já, traz o cardápio, anota os pedidos, embaraça-se com a bandeja e a falta de espaço.

Todos riem. Chamam-se. A infância retorna em brincadeiras, mas é logo afastada por um gole de vodka; crescemos todos afinal. O futuro é comemorado, os sonhos de um porvir são transformados em gritos de guerra. E há uma alegria triste no riso de alguém, a quem chamaremos Australiano. O riso sincero, revelador de sua personalidade acanhada, abre-se para dentro da alma, revelando-lhe um deserto de segredos guardados no coração encoberto de timidez e solidariedade. O maior segredo está sentado a alguns amigos de distância, os olhos buscam-no furtivamente, depois escondem-se em um copo de cerveja, vergonha da ousadia que tiveram. Vejo a mágica antiga do amor bonito, não há outra palavra, dos primeiros tempos, do alfa da adolescência, tempo de descoberta daqueles que não se encontraram na vida, da poesia fácil entornada sobre o papel, das maiores dores do mundo, porque o mundo é do tamanho do nosso coração, e nosso coração é só o amor que temos.

O mundo é outro, agora. Há o álcool, a volúpia o escárnio. As mesas acumulam copos esvaziados, desejos que bebemos, brindes que levantamos. Ao futuro. O Australiano talvez tema, o futuro sempre leva quem queremos que fique, amaldiçoando-nos com os piores encantamentos: o presente vira passado; o desejo, saudade; o apego, distância. O garçom retorna, novos pedidos, alguns querem que eu beba para destravar a língua. Alguém, cujo codinome será Felina, incita às brincadeiras, chama sempre ao Australiano, e depois aos outros, tantos, nas mesas cheias. Mais vodka, mais risos. Desenha-se no ar uma linha ligando ele a ela, será coisa da minha cabeça?, uma espécie de muda comunicação, que todos perceberam, tanto é que alteramos a configuração dos presentes. Um pede para que Felina ocupe seu lugar, próximo do Australiano. Ela refuta, consciente das intenções. Outro oferece ao Australiano uma cadeira próxima de Felina, ele ri, mas não sabe, ou talvez não queira, recusar a chance de estar próximo uma vez mais, quem sabe a última, dela.

Juntos, então, a Felina e o Australiano arriscam-se nos passos, desajeitados os dele, decididos os dela, de uma canção conhecida por todos. O ritmo não coincide com os corpos próximos, quiçá os corações dancem uma música que é só deles, ainda inédita, mas já ensaiada de alguns meses. Ou sou eu quem a estou compondo, a partir de fragmentos desta realidade que insisto em selecionar, para não me ver a mim, solitário entre muitos, alma cinza em meio ao mundo multicor.

As mesas se enchem de uma esperança tênue, leve, suave aos ouvidos. Cantamos. As alegrias culminam em uma dose de tequila. À Felina, ao seu futuro. E, como gesto a eternizar o momento, que por si só já seria inesquecível, um beijo, terno, amigo, em todos os presentes. Talvez o coraçãozinho do Australiano tenha dado um pulo no peito: os olhos bebem gulosamente um copo de qualquer bebida, enquanto o beijo percorre mesa a mesa, como um lastro de felicidade ascendente. A ele o gesto corrente significaria muito mais do que a amizade, o reconhecimento por parte dela pelos ombros, pela confiança depositada durante os dois anos de intensa batalha em busca dos sonhos, do futuro.

Ninguém sabe o que nos aguarda depois da linha do horizonte. As futuras etapas da vida poderão trazer outras pessoas e caminhos. Um novo amor pode estar ali, de jaleco branco, aguardando a Felina para um chopp. O Australiano talvez pense nisso enquanto, no final da mesa, aguarda o ingênuo beijo. Eu tento, preciso não enxergar o instante com o excesso de romantismo que sempre brota em mim, ainda que eu o sufoque com doses cavalares de Radiohead e niilismo. Só mais um pouco: ela precisa voltar, retornar ao ponto de partida, agora o fim, para alcançá-lo, o último. Em pé, a Felina inclina-se para sorver dos lábios dele uma ínfima demonstração dos desejos acumulados durante anos. Ela não sabe disso. Ou talvez saiba, estou de fora e o que faço é apenas encher o momento de paina agridoce. Sou feliz nesta fantasiação momentânea, quando o meu real é inventado para ter um sentido maior do que realmente tem.