domingo, 2 de março de 2014

das lições que se aprendem enquanto caímos

Há tempos que não escrevia aquelas sentimentalidades. Já não sabia quando renunciara à escrita como forma de expressão, talvez no momento impreciso em que seu coração começou a bater no ritmo diário do trânsito-trabalho-casa. Foi preciso que o fim de um grande amor se fizesse presente para que pudesse, então, encontrar-se consigo e voltar a ouvir a doce percussão que emanava de seu peito, como outrora, destoando das canções a que se acostumara.

Encontrou-se novamente com sua escrita. Mas não eram cartas de amor, ridículas como todas são. Ainda eram suturas preparadas às pressas para estancar as feridas que insistiam em não cicatrizar, enquanto o tempo não remediasse a situação de vez por todas.

Até que o momento da amorosa carta, aquelas sentimentalidades, retornou. Carregou-a das cores mais vibrantes, como a morte multicor; selecionou verbos e adjetivos um a um; teceu a melhor malha como há muito não fazia.

Então parou. Buscou nos salões escuros da memória as lembranças de outras cartas: a semelhança das cores e formas o impressionaram tanto que logo um medo alojou-se sub-reptício em seu peito. No entanto, tal medo mostrou-se apenas sinal para a mudança de tom na música.

Versado nas artes do origami, transformou a folha em suas mãos em belo pássaro. Esperou o primeiro vento matinal e soltou a criatura como quem liberta alguém que fora preso injustamente. O pequeno ser titubeou por instantes ao sabor da brisa, desajeitado e desarmonioso, até que suas asas encontraram um ritmo, abrindo-se de par em par para ganhar os primeiros raios de sol da manhã.
(crédito da imagem: http://mateusgandara.wordpress.com/)

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