Hoje deixo as palavras por conta própria
elas não precisam de mim
do trato e do carinho que ofereço
deixo
e vou ao encontro dos meus
no barracão
no busão
no vagão
lotados
de sonhos que forram a terra
cobrem o teto
seguram-se em barras
paralelas
e nadam em rio sem vida
daqueles que tornam a luta
gesto maior que um pronome
mão quente acariciando o rosto
atravessando a madrugada fria
hoje sou mais um e vou
na multidão
dos que me tornam palavra
e concedem-me este carinhoso gesto solidário
vou e converto-me em poesia de luta
que, mesmo sob a eterna falta do poeta
concretiza-se
em lona, canção, cadeia
dia-a-dia.
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