(...)Tal uma lâmina
o povo, meu poema, te atravessa.
(Drummond, Consideração do poema)
Para Xs companheirXs de luta
O poeta vê o barro molhado da chuva
os barracos precários que sobrevivem
o vento assombrando a brava lona preta
Vê vozes desenhando sonhos
afrontando capitais projetos
e não sabe o que dizer
O poeta vê a palavra povo
que abandonou a poesia e os círculos e bares
da Vila Madalena e Augusta
que se tornou teoria empoeirada
Em Pinheiros e no Butantã
e sabe o que não quer dizer
Vê a criança inventando nova vanguarda
embaixo da corajosa árvore centenária e vívida
o pipa que esquiva-se e sobe adiantado
pintando de vermelho um céu de inverno
perdido na primavera
O poeta não diz
Sabe que o silêncio em tempos de luta
também é boa poesia.
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