sábado, 19 de dezembro de 2015

prenúncio

Manso, como um sobrenome do oriente, você veio. Talvez a trilha fosse outra, talvez o calor menos ameno -
- eu estava armado. Escudo em mãos. É que a gente vai, sem perceber, desenhando ameaças em toda esquina. Antes fosse apenas o escudo, mas a gente vai, sem perceber, andando de um jeito torto, pronto pra surpreender -
E ataco querendo não querendo. A gente aprende a usar o ataque como defesa. Desculpa. Eu, de tanto sentir o azedo das palavras apodrecidas pelo tempo, sei que desculpar-se não vai lavrar o chão. O cravo - ou outra flor - não vai brotar. Não mais.
Você vai. Sorte que tenha a inteligência do pássaro que sabe a hora de buscar o verão. Eu, árvore sem nome (os nomes não alteram o perfume das acácias), mantenho firme o coração de pedra-pomes. Sentindo as folhas caírem. As palavras secarem. Mais uma vez a gente prende o grito e a vontade e depois transforma tudo em cena de filme de ação ou poema barroco.
E dorme, sem fim.