segunda-feira, 1 de julho de 2013

continho à la J.S.


Arrancaram-lhe o mundo. Cristina vagava no vazio, só corpo, com as estrelas a cintilar longinquamente. O vazio era escuro, como todos sabemos que é, mas um escuro gordo e multiforme. Ela, a jovem garota, ia perdendo a noção de si, imersa no inominável, o mesmo que engolia Fantasia. E, como se não bastasse, viu, por olho alheio, o mundo que perdera, estranhamente reconhecível, o olhar, claro, que o mundo, este ela reconhece sem nenhum estranhamento.
Cristina tentou esforçar-se para sair do vazio e recuperar o que seu era. Vê-se aí que não é por falta de vontade que este conto não se completa. Queria voltar ao antes, ao não-mais. O vazio, todavia, remodelava-se a cada tentativa de fuga da moça. E os olhos alheios, cruéis sem saber que eram, a lhe mostrar o mundo perdido, a lhe gerar cada vez mais vontade e cada vez mais inércia.
Foi-se entregando aos poucos, as forças esvaídas. O vazio imperava. Hoje, se o conto morreu, não foi pela ausência de conflito.

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