quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Texto-Esboço para os Oito Anos.

(para Ela, sempre)

Era um filme que veríamos. Um filme que foi se revelando nas longas conversas de telefone, e trocas de mensagens em que se abreviavam as palavras para se conseguir dizer mais. Era um filme para selar o fim do que sequer havia começado. Era assim mesmo: antes do começo, o fim.

Sabe-se lá que mágicas o cinema faz! Uma noturna luz disfarçava a tarde lá fora. Domingo. E nós, ali, a ver o filme prometido. Desconhecíamos os caminhos do amor, que conduziam os braços aos abraços apaixonados, os lábios ao ávido beijo. Eis que o filme aproximava-nos: sentar lado a lado, oferecer um colo, aceitar um afago. A película, na verdade, era a água que regava o campo semeado com palavras. Sempre as palavras. Poderiam brotar a qualquer momento, tornarem-se reais e terríveis, converterem-se em atos, ações e, portanto, não terem mais volta.

A tarde entregava-se aos jogos de crianças, às conversas de portão e aos goles de bar. Nós, à semi-obscuridade, à vontade de começar o que já havia acabado. E foi assim que as palavras, muitas delas abreviadas, outras prolongadas em horas que adentravam madrugadas, brotaram. Um gesto, um braço, um abraço, um beijo, uma explosão. O fim.

Daí então, o início.

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