(algo como uma prece pros próximos anos)
Tomo longos goles do líquido escuro que brota do meu peito. Deixo-os escorrer da camisa branca à folha amarelada. Não sempre mas deste contato tão prosaico sai, par em par, umas asas coloridas. Borboletas, eu sei. E rio feliz porque aprendi: onde há borboletas há também nascentes.
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Da memória sexagenária aos futuros planos abortados, tudo no aqui-dentro - quero costurar umas asas bem bonitas. Fazer voar as dores, deixar o amor conhecer a estratosfera. Assim: no espalho quem sabe eu me acho. E encontre quem me junte.
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Dizem: a poesia é livre.
Mas o poema é ave em cativeiro.
(são os únicos - os únicos - pássaros que gostam de gaiolas).
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Melancólico é o coração-árvore com desejo de asas
ave-
-nturas.