Coisa miserável,
Suspiro de angústia
Enchendo o espaço,
Vontade de chorar,
Coisa miserável,
Miserável
Senhor, piedade de mim,
Olhos misericordiosos
Pousando nos meus,
braços divinos
cingindo meu peito,
coisa miserável
no pó sem consolo,
consolai-me.
Mas de nada vale
Gemer ou chorar,
De nada vale
Erguer mãos e olhos
Para um céu tão longe,
Para um deus tão longe
Ou, quem sabe? para um céu vazio.
É melhor sorrir
(sorrir gravemente)
e ficar calado
e ficar fechado
entre duas paredes
sem a mais leve cólera
ou humilhação.
Poesia Completa de Carlos Drummond de Andrade, p. 55 (Nova Aguilar)